sábado, 9 de abril de 2016

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Dostoiévski (Crime e Castigo; Crime and Punishment)

Eu não sou leitor modinha.





Dostoiévski foi escritor  e filósofo russo, considerado um dos maiores romancistas da história e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos.
        A obra dostoievskiana explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio: seus escritos são chamados por isso de "romances de ideias", pela retratação filosófica e atemporal dessas situações O modernismo  literário e várias escolas da teologia e piscologia foram influenciados por suas ideias. Seu último romance, os irmãos Karamoz, foi considerado por Sigmund Freud como o melhor romance já escrito. Perigoso, segundo Josef Stálin, até 1953 o currículo soviético para estudos universitários sobre o escritor o classificava como "expressão da ideologia "reacionária burguesa individualista" Foi considerado por muitos como profeta, pois ao falar cantava o futuro, notas como política, religião, sociedade e filosofia.


Obras de Dostoiévski
Pobre Gente, 1846
O Duplo, 1848 Humilhados e Ofendidos, 1861 Memórias da Casa dos Mortos, 1861 O Tempo, 1863 Memórias do Subterrâneo, 1864 Crime e Castigo, 1867 O Idiota, 1868 Os Demônios, 1868 Os Possessos, 1871 O Adolescente, 1874 Diário de um Escritor, 1874 Os Irmãos Karamázovi, 1880


Crime e Castigo é um dos maiores romances da história e tem como uma característica o fato de ser um livro que reproduz a angústia psicológica de um personagem que desde o início já sabemos ser um assassino. O estilo de Dostoiévski é inconfundível, já que ele reproduz os pensamentos e as dúvidas mais íntimas dos personagens. O romance começa narrando a história de Raskólnikov, um estudante que vive de aluguel em um pequeno apartamento que pertence a uma velha usurária. Raskólnikov ganha dinheiro fazendo pequenas traduções, no entanto, vive à beira da miséria. Como é um jovem muito neurótico e introspectivo,o estudante ( na verdade ex-estudante) durante seus vários momentos ociosos formula uma tese que pensa ser original: homens como César e Napoleão foram responsáveis por milhares de mortes, entretanto, foram considerados pela história como grandes heróis e conquistadores. Por que Raskólnikov pensa dessa maneira? Porque ele se vê oprimido pela velha dona do apartamento que simbolizava o capilismo selvagem.
Então Raskólnikov se questiona a respeito de uma ideia que ele teve: se Napoleão matou milhares e foi absolvido pela história, por que ele (o personagem) não também seria se matasse a velha que vivia do dinheiro do aluguel e juros? Não estaria ele fazendo um bem à humanidade? Essa pergunta reflete o pensamento do próprio Dostoiévski, para quem as ideias moviam os homens, e não os homens realizavam as ideias.
Toda a psicologia e a angústia de Raskólnikov no momento em que se prepara para matar a velha são registradas de maneira magistral por Dostoiévski. O leitor parece que está assistindo à cena. Então o fato acontece, mas esse não é o momento crucial do livro, pois a melhor parte está por vir.
Ninguém sabe que ele matou a usurária. Foi, na verdade, um crime perfeito. Mas aí entra a grande questão: como superar o sentimento de culpa que nunca foi descrito em nenhum livro que ele leu? Matar milhares em nome da humanidade talvez seja mais fácil do que matar um único ser humano, e isso Raskólnikov não previu. Outro aspecto psicológico do assassino entra em cena que é o desejo de ser punido. Quando a polícia começa a investigar o crime, Raskólnikov não é o primeiro suspeito, mas no momento em que ele vai ser interrogado pelo juiz Porfiri Pietróvitch, todo o romance muda de cena.
Raskólnikov vê-se diante de um opositor formidável, porque aparentemente durante seu interrogatório o juiz parecia desconfiar que ele era o autor do crime. Surge então na mente de Raskólnikov o sentimento de prazer e de grandeza, uma vez que ele se alegra com o duelo de palavras e gestos simulados que trava com o juiz. Ele sente prazer em ser mais esperto do que Porfiri, pelo menos no primeiro instante.
À medida que os interrogatórios vão se multiplicando, Raskólnikov percebe que está perdendo o controle da situação. O juiz Porfiri aparenta ter certeza de que ele é o culpado e tenta fazer um jogo psicológico com Raskólnikov para ver se ele confessa. Os diálogos são perfeitos e até mesmo engraçados.
Mas o personagem encontra uma pessoa que o faz sentir o amor pela primeira vez na vida. Essa é Sônia, uma prostituta miserável. Sônia representa no romance a fé ortodoxa e a possibilidade de redenção. Raskólnikov, que era um niilista, encontra uma luz durante um diálogo com Sônia em a faz ler uma passagem do Evangelho. A passagem é do Evangelho de São João que narra a ressurreição de Lázaro. Parece que a partir desse momento Raskólnikov ressurge do mundo de fantasia, de culpa, de solidão e de niilismo em que habitava. Mais adiante ele confessa para Sônia que foi o autor do crime. Ela diz para ele confessar. Depois de muitos diálogos em que sua psique foi quase reduzida a nada pelo juiz, Raskólnikov confessa o crime. Ele é condenado à prisão de oito anos na Sibéria, onde influenciado pelo amor de Sônia, sua regeneração moral vai ter início.
Raskólnikov pecou por malícia segundo a filosofia Tomista, porque pecou pela eleição do mal. O personagem vivendo em um mundo ocioso e orientado por leituras mal feitas, sem critério e que não buscavam à verdade, se perde aos poucos. O teólogo cristão Orígenes já havia dito que ” não se destrói ou se perde subitamente, mas que necessariamente se decai pouco a pouco e por partes.” Primeiro Raskólnikov se isola; o seu caráter se enfraquece; e, por último, lembrando as palavras do Gênesis, ” o pecado está à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele, tu deves dominar.” São Tomás esclarece que o pecado da malícia vem de uma disposição corrompida que inclina a pessoa para o mal, de tal modo que esse mal se torna em algo conveniente. Isso pode advir de uma natureza corrompida ou de uma doença do corpo. Ora, o pecado da malícia é muito mais grave que o pecado induzido pela paixão, pois quando se peca pela paixão logo depois a pessoa volta a si e se penitencia. Como o pecado de Raskólnikov é mais grave, o processo de penitência e redenção deverá ser mais longo.
Esse é um romance que envolve muitos temas que vão da psicologia à religião. Raskólnikov não consegue provar sua tese de que se livrando de um ser desprezado pela sociedade, ele estaria se igualando a Napoleão. De certa maneira permanece a questão: matar um é crime, mas  trucidar milhares é ser herói. A mentalidade do culpado procurado pela polícia é descrita com grande precisão, se é que podemos dizer assim, já que nunca sentimos isso. A fé cristã ortodoxa representada por Sônia é um tema recorrente nas obras de Dostoiévski, porque o autor russo era do movimento eslavófilo, que entre outras coisas acreditava na missão da Rússia como a redentora do ocidente laicizado e como responsável por espalhar novamente a mensagem do Evangelho, e também na adoção do antissemitismo, que está presente em Crime e Castigo. A mensagem da ressurreição espiritual e moral de Raskólnikov a partir de uma passagem do Evangelho e do amor por uma prostituta pobre que não tinha a sua erudição histórica, no entanto possuía a fé em Cristo em sua mente e em seu coração, poderíamos dizer que valerá para todas as épocas que virão.
"O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo. Os homens verdadeiramente grandes devem, parece-me, experimentar uma grande tristeza."




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